Molhes da Barra
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Molhes da Barra,
no Rio Grande, é uma
obra de hidráulica
marítima de pedras, construído em 1911, com quilômetros de extensão ao mar. Sua construção visou proteger a entrada e
saída de navios do Porto e proteger o canal da
formação de bancos de areia. Não
se deve confundir um molhe com
um quebra-mar pois o quebra-mar
possui as duas extremidades dentro d 'água enquanto o molhe possui uma
extremidade em terra e outra no mar. Apesar disto esta confusão é muito comum
entre as pessoas leigas.
A dificuldade de
acesso
Nos primórdios do
século XVIII, Rio Grande e Pelotas eram habitadas
pelos índios selvagens Minuanos e Tapes. Para facilitar a comunicação da
fortaleza de Colônia do Sacramento (próxima a Buenos Aires) com o Rio de
Janeiro, era necessário estabelecer um ponto de apoio intermediário, para o que
o Rio Grande fora o local escolhido.
A necessidade de
enfrentar os baixios da barra de Rio Grande, formados por bancos de areia de
posição constantemente alterada, tornava assustadora a entrada na barra.
Concorriam para isso ainda a força da corrente e dos ventos. E em se tratando de terras muito
baixas, não havia pontos de referência na costa. De alto-mar, a orientação
visual desde Laguna até
o Uruguai, é muito
difícil. Muitos navios naufragaram na costa de Rio Grande.
"Numa
informação prestada pelo cônsul alemão à Associação Comercial do Rio Grande, e
por esta transmitida ao Ministério das Obras Públicas, lia-se o seguinte:
"Em 22 de setembro de 1882 entrou o navio alemão MARTHA, vindo de Antuérpia, com
trilhos destinados a Pelotas. Este navio saiu de Antuérpia em 3 de abril de
1822 e avistou a barra em 30 de junho tendo então 13 1/2 palmos d'água.
“Conservou-se à vista da Barra até o dia 25 de julho último, quando partiu para Santa Catarina, por
falta de mantimentos. Depois de ter ali aliviado a um calado de 12 1/2 palmos,
regressou em fim de agosto último e avistou a barra pela segunda vez em 2 de
setembro corrente, tendo mesmo assim ainda 20 dias de demora fora da barra.”***
A importância de
Rio Grande
Em 1737, seis navios partiram da Colônia do Sacramento com destino a Rio
Grande, onde o Coronel Cristóvão Pereira os esperava
fundeado na barra. O rei D. João V tentava assegurar
a soberania da região a qualquer preço, pressionado pela constante ameaça de
invasão pelos espanhóis: "Toda a pessoa que quiser ir em defesa da
campanha do Rio Grande fará seus os saques do que em guerra tão justa tomar ao
inimigo"*. Rio Grande era um ponto estratégico na defesa da região.
Estabelecida a
colônia portuguesa em Rio Grande, imigrantes da Ilha dos Açores e da Ilha da Madeira vieram povoar a
região. Em 1780 foi instalada a primeira charqueada na
região por um cearence denominado José Pinto Martins. Por alguns séculos o charque trouxe riqueza à
região e a barra de Rio Grande tornou-se caminho para escoá-la.
O tráfego pela
barra foi crescendo. Em 1846 o Império criou a Inspetoria da Praticagem da
Barra, comandada por oficial da armada nacional.
Os navegantes
vindos da Europa e do Prata com destino ao porto de Rio Grande temiam pela
entrada na barra natural da Lagoa dos Patos. Por
Rio Grande entravam mercadorias vindas da Europa, muitas da Grã-Bretanha.
Passou a desenvolver-se uma crescente navegação através da Barra,
sendo contadas em 1847, 668 embarcações.
Em 1855, o Ministério da Marinha enviou o Ten. Cel.
Eng. Ricardo Gomes Jardim, especializado em engenharia hidráulica, para estudar
a Barra e o Porto e concluiu "que devem reputar-se inexeqüíveis, senão
mais nocivos do que úteis, quaisquer construções de pedra ou de madeira, no
intuito de prolongar o leito do rio ou dar maior força à corrente".
Em 1860, o cônsul inglês Henry Vereker escreveu o
"Roteiro dos Capitães de Navios que Navegam para o Rio Grande do
Sul". A obra foi traduzida por João Reguffe, de Rio Grande, em 2001. Veja
algumas passagens do livro:
·
A costa do Rio Grande do Sul estende-se por
mais de quatrocentas milhas e é muito regular em aparência em toda a sua
extensão, no que diz respeito a pontos de referência visual. O solo é muito
claro, misturado com areia, e em muitas partes há apenas areia, que se
movimenta com os ventos, de modo que há constantes alterações.
·
Em toda a costa,
do Cabo Santa Marta Grande ao Cabo Santa Maria, não há pontos
suficientemente marcantes para guiar o navegante, exceto as terras altas nas
proximidades do primeiro, a aparência geral e as ilhas no último, as rochas de
Castillos (Uruguai) e colinas
próximas e, finalmente, o farol e a atalaia do Rio Grande.
·
É da máxima
importância a exatidão do cálculo da latitude e longitude em que o navio se
encontre na costa do Rio Grande do Sul. Em poucos lugares do mundo é tão
necessário o navegante fazer esses cálculos com precisão. ·
Muitos navegantes empenham-se
em avistar terra primeiro ao norte da barra. Isto é um equívoco, pois saem de
sua rota para avistar um ponto não tão visível como o farol do Rio Grande, que
deve ser o principal objetivo, e ficam sujeitos a perigos por navegar muito
próximo da costa.
·
Todos os bancos
que circundam a barra são compostos de pura areia fina, e constantemente
ocorrem alterações.
·
Há dois
fundeadouros fora da barra - um a sueste e o outro a sudoeste do farol, com
seis braças.... Às vezes os navios têm de permanecer fora da barra por tempo
considerável devido à falta de calado ou de ventos favoráveis. Todavia em
nenhum destes fundeadouros a âncora deve permanecer por muito tempo neste mesmo
lugar, pois poderá afundar totalmente na areia, e se tornará difícil içá-la em
uma emergência. A cada dois ou três dias a âncora deve ser levantada e
novamente lançada... (**)
D. Pedro II passou pela Barra
de Rio Grande em 1865, voltando ao Rio de Janeiro, após visita a Jaguarão. Apesar de
não ter enfrentado a chegada a Rio Grande pelo mar, D. Pedro II reconheceu a
necessidade da construção dos molhes. No entanto, este quadro permaneceu por
dois séculos, até que em meados do século passado os presidentes Rodrigues Alves e Afonso Penaconstruíram
os molhes.
A obra
No século XIX tivemos estudos de
viabilidade, licitações, anulações, etc. Os molhes foram construídos de 1911 a 1919.
O molhe oeste tem
2,2 km (já contando a obra concluída no ano de 2010) (Praia do Cassino), e
o leste (São
José do Norte), 3,2 km. Transportadas por ferrovia de
90 km especialmente construída para este fim, pedras de até 10 ton foram
sendo jogadas ao mar, em um total de 4,5 milhões de toneladas.
Trabalharam na
obra, no pico, cerca de 4 mil operários. Os trilhos atualmente servem para
passeio de turistas.
Os molhes fixam
a barra do canal e o protegem da ação das ondas e do assoreamento natural,
garantindo a navegação em condições seguras.
Durante sete
décadas a obra não precisou de manutenção. Nos anos 80 o molhe leste cedeu em
vários pontos e a areia começou a invadir o canal, colocando em risco a
navegação.
A recuperação dos molhes iniciou-se
em 1995 a
um custo de 140 milhões de dólares, lançando mais meio milhão de toneladas de
pedras e 100 mil toneladas de tetrápodes (blocos de concreto especiais).
Os estudos em modelos reduzidos
foram elaborados, no Rio de Janeiro, pelo INPH - Instituto Nacional de
Pesquisas Hidroviárias.
PASSEIO PELO CANAL E SÃO JOSÉ DO NORTE, CIDADE VIZINHA A RIO GRANDE
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